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Não só um dos maiores nomes da história brasileira, Getúlio Vargas ocupa até os dias de hoje a posição de mais duradouro presidente do país, com 18 anos 6 meses e 19 dias. Ao longo desses tantos anos, foi idolatrado e glorificado.

 

Vargas assumiu a presidência em 1930, ao tirar Washington Luís do poder com a Revolução de 30, um movimento armado que culminou num golpe de estado, e o substituindo por Getúlio. Em 1934, o presidente promulgou uma nova constituição e em 1937 fechou o Congresso Nacional, passando a governar com poderes ditatoriais no Estado Novo. Getúlio saiu da presidência pela primeira vez em 1945 com o Golpe Militar e retornou em 1950 através de eleições diretas. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no peito.

 

Não iremos aqui discutir a sua biografia, muito menos os seus feitos. O foco é a sua relação com o povo, tendo em vista que durante seu tempo no poder e até em memórias póstumas, Vargas é lembrado como o pai dos pobres, amigo das crianças, um homem do povo.

 

Encantado pelo fascismo italiano, tendo como prova as influências da Carta del Lavoro nas leis trabalhistas, e pelo nazismo de Hitler, o discurso do  Estado Novo muito se assemelhava a tais movimentos, com o apoio sindical e o Estado centralizador. Sua ideologia propunha a visão do Estado como o único capaz de garantir harmonia e realizar o bem, assim como a ideia de um homem portador de vírtu (presente no Príncipe de Maquiavel, que trata da capacidade do governante de controlar todos os acontecimentos do seu governo), que seria capaz de salvar a nação.

Mas, a maior característica do seu governo era o Populismo, um fenômeno de manipulação de massas que se dava através de um líder extremamente carismático e que tentava satisfazer a população através da realização de alguns anseios, como as leis trabalhistas. Desta forma, o povo era saciado, tornando a manipulação mais fácil.

"Vargas implementou um reordenamento político administrativo sem precedentes na História do Brasil. Com dois objetivos: o primeiro, promover através do populismo uma política de massa, com forte apelo ideológico, a fim de acabar com o poder paralelo dos coronéis e das oligarquias rurais e, o segundo, poder empreender uma política de Estado focada na centralização do poder governamental, no fortalecimento do estado burocrático, tecnocrata, monopolista e autoritário", explicou Marcília Gama, doutora em História.

Dentro dessas vertentes, Getúlio instaurou órgãos e técnicas para uma maior efetividade, uma enorme máquina de de propaganda que permeava vários âmbitos da esfera política e governamental. Entre elas, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o rádio.

DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP)

 

Em dezembro de 1939, Getúlio Vargas extinguiu o Departamento Nacional de Propaganda (DNP) e criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), uma versão aprimorada do DNP.

O órgão tinha a função de centralizar toda a propaganda nacional, seja ela ligada à figura do presidente, aos ministérios e outros departamentos de administração pública. No decreto de sua criação, ainda constavam como funções coordenar o programa de radiofusão; organizar o turismo; promover e organizar festas cívicas de intuito patriótico; estimular a produção de filmes nacionais e fazer a censura de teatro, cinema, esportes, recreações, literatura social e política, imprensa e radiodifusão.

Entre seus feitos, está a criação da imagem de Getúlio Vargas e da formação de uma nacionalidade. Através das suas ações, foi instalada a ideia de uma nação brasileira, unida e igual. Tendo como pontos principais a miscigenação e o samba como ritmo oficial.

E, preocupado com o fato de ter assumido o poder em 30 com o golpe e em 37 ter instaurado uma ditadura, o presidente queria formar sua imagem ao lado do povo. "Ele usava o DIP construindo um discurso de ordem, desenvolvimento e modernização. Através de cartazes que mostravam a ascendência de sua figura, sempre veiculada ao lado dos símbolos da pátria e/ou junto ao povo que o aplaudia. Um exemplo são as imagens de multidões indo às praças e aterros para ouví-lo, em franca posição de deslumbre, endeusamento e contentamento. O apoio e a aprovação da população era tudo o que o marketing do DIP buscava para propagar os ideais do governo, bem como na rádio e nos jornais através de programas fixos e cadernos específicos que tratavam da política adotada por Vargas", esclareceu Marcília. 

Assim, construiu a sua imagem de pai dos pobres, mãe dos ricos e amigo das crianças. Essa adoração à sua pessoa foi um dos principais pilares para a sua permanência no poder por tantos anos, conseguindo o título de presidente com mais tempo no cargo. 

Inovação política - Luiz Paulo Ferraz
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Vargas e Rádio - Luiz Paulo Ferraz
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RÁDIO

 

“O rádio permitia uma encenação de caráter simbólico e envolvente, estratagemas de ilusão participativa e de criação de um imaginário homogêneo de comunidade nacional. O importante não era exatamente o que era passado e sim, como era passado, permitindo a exploração de sensações e emoções propícias para o envolvimento político dos ouvintes.” A fala do historiador Alcir Lenharo em seu livro A Sacralização da Política sintetiza bem o papel e os efeitos que o rádio teve no governo de Vargas.

 

Quando Getúlio chegou ao poder, em 1930, o rádio era considerado um artefato próprio das elites. Como tinha conhecimento do seu poder e dos benefícios que poderiam ser trazidos, o presidente tornou o rádio um meio de comunicação de massa, voltado à diversão do povo. Então, passou a se utilizar do veículo como um aliado político, divulgando seu governo e difundindo seus interesses por todo o Brasil. "Através do rádio, Vargas tinha um canal direto com a população. Atuando no convencimento, condição fundamental no combate ao poder das oligarquias", acrescentou Marcília.

 

Seu trabalho nas rádios foi profundo, ele não só conquistou os donos e diretores como também os radialistas. As jornadas de trabalho eram exaustivas e os salários absurdos, então, a profissão foi regulamentada com piso salarial e jornada máxima. Ele foi direto na máquina que fazia a rádio funcionar.

 

A sua, talvez, maior estratégia com a rádio era estar dentro da casa do povo. O presidente falava ao lado do sofá, perto da sua nação. E não só falava, como falava direcionadamente para o povo, para os trabalhadores brasileiros. Através de discursos diretos e emocionantes, o presidente passou a ser parte da família.

DIP - Luiz Paulo Ferraz
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LEGADO

O que temos até hoje é a ideia de Getúlio Vargas como um grande e bom homem sendo passada nas escolas e seus passos sendo seguidos pelos líderes brasileiros seguintes, cheios de apertos de mão, abraços e contato com o povo.

Getúlio alcançou um patamar maior do que ser um grande homem e um grande presidente, ele convenceu toda uma nação de que o era. A percepção é a realidade. Vargas tornou real seu papel de um grande, talvez maior, presidente.

 

"Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história."

Carta-testamento - Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954

Por Marcela Coutinho

Marcela Coutinho é estudante de Jornalismo, olindense apaixonada, sempre de olho no que está ao redor, fã de comer e louca por romances policiais. 

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